domingo, 30 de junho de 2013

EDUCADOR DA EJA DA EMEF RIO DE JANEIRO APRESENTA TRABALHO NO III FALP

Prof. João Francisco (à direita) apresenta trabalho no III FALP

Durante o transcorrer do III FALP - Fórum Mundial de Autoridades Locais da Periferia, ocorreu no dia 11 de junho, a Oficina Afrocentrismo, promovida pela Coordenadoria da Diversidade em associação com a FAUERS - Federação Afro-Umbandista e Espiritualista do Rio Grande do Sul, onde importantes palestras associadas ao tema foram proferidas. Na oportunidade, o professor João Francisco Costa apresentou o Painel Impactos das Religiosidades Africanistas na Territorialidade Brasileira: Uma Abordagem Sobre as  Religiões de Matriz Africana e o Cotidiano. João Francisco leciona geografia no ensino fundamental da Escola Municipal Rio de Janeiro e na modalidade EJA, na mesma escola, atua na área do conhecimento Ciências Humanas e Sociais. Aqui reproduzo o texto e os slides que serviram de base para sua apresentação no evento:

Por volta da década de 1530, os portugueses iniciaram o processo escravocrata no Brasil visando, sobretudo, as plantações e produção da cana-de-açúcar, assim como extração dos demais materiais valorosos que pudessem de alguma sorte enriquecer os cofres da Coroa Portuguesa.
As primeiras levas de africanos chegaram ao Brasil provindas das regiões do Enclave da Cabinda e das áreas bantos. Esses e essas africanas entraram em um processo de relações com os indígenas, principalmente, que lhe passaram os segredos da nova terra: ervas, lugares sagrados e conhecimentos gerais das novas áreas. Em contrapartida, os bantos também possibilitaram conhecimentos adquiridos para com seus pares excluídos.
Desde o início, os africanos tentaram de forma subliminar manterem suas religiosidades mesmo frente a imposição do catolicismo dominante.
As segundas grandes levas de africanos trouxeram ao Brasil os fon, vindos das áreas próximas ao Golfo da Guiné. Esses fon, quando chegados, encontram pequenas organizações afrodescendentes e africanas as quais utilizarão para formarem tanto suas primeiras estruturas de sobrevivência quanto sua estadia nas terras brasileiras. Influenciados e influenciando com suas culturas, os fon iniciam um processo de ampliação da resistência africanista. As construções das igrejas, dos templos, das próprias ruas de Salvador ou do Recife ou de Porto Alegre começam a impregnar-se de sacralidade religiosa africanista. Evidentemente, proibidas, as religiões necessitaram de muitos meandros e, sobretudo, fé para poderem permanecer em nosso território.
Em última análise, chegaram os representantes do poderoso Império Yorubano, extremamente bem organizados politicamente, trouxeram profundas e respeitosas tradições religiões e de sistemas de governos. Conforme o documentário A Cor da Cultura, do Ministério da Educação, “os iorubás trouxeram-nos poderosíssimas tradições, porém, aqui já existiam muitas organizações e estabelecimentos de culturas africanistas, as quais foram absorvidas pelos iorubanos e, que estes também organizaram, formando no Brasil, uma Iorubanização do processo religioso, sobretudo, na Bahia, com a chegada das três princesas iorubanas, onde Ia Nassô teria organizado o Xirê dos Orixás (e ai as entidades já ganham nomes iorubanos).
A influência e o impacto das religiosidades de matriz africanista no Brasil atravessou os séculos e tornou-se uma das maiores marcas culturais de nosso país, principalmente, quando pensamos em um consciente coletivo brasileiro, porque não necessitamos que nos digam que existem casas de culto em nossas redondezas, por exemplo, basta que escutemos os tambores, ou analisemos as casinhas vermelhas na frente das casas, ou ainda que vejamos as oferendas arriadas nas esquinas, praças, encruzilhadas, etc.
Ainda, necessitamos ressaltar a importância das festas religiosas africanistas que param municípios inteiros e muitas partes do Brasil, como no caso da festa de Yemojá/Yemanjá, em 02 de fevereiro, onde milhares locomovem-se às praias para pedirem vida melhor, melhores condições de saúde ou simplesmente agradecer por graças alcançadas.
Esses fatos postulam a importância e o impacto da religiosidade africanista no psicológico e na vida de milhões de brasileiros. Conhecemos e reconhecemos os espaços que mesmo sendo urbanos foram tramados de sacralidade (como nos coloca ROSENDAHL: “Os lugares sagrados participam da estabilidade das coisas materiais e somente ao se fixar sobre eles, confiná-los em seus limites e inclinando sua atitude à disposição deles, é que o pensamento coletivo do grupo de fiéis possui maiores chances de se imobilizar e permanecer: é esta a melhor condição da memória coletiva religiosa. (HALBWACHS apud ROSENDAHL, op. cit . p. 35.).

Não concluindo...

As formas de resistência dos africanos escravizados no Brasil, demonstram hoje, a potencialidade de suas culturas. Os fatos ligados a organização espacial, cotidiano e principalmente, pela luta por melhores condições de vida, fizeram com que os afrodescendentes, criassem uma nova perspectiva e identidade sócio-religiosa, no Brasil e, sobretudo, no Rio Grande do Sul.
Compreenderam, a necessidade de uma união e organização de seu “novo” espaço, a luz daquilo que de alguma sorte lhe dava esperança: A Religião, a Fé.
Sacralizaram o novo território, tornaram-no mítico, mesmo sofrendo pressão social e eurocêntrica, não abandonaram seu vínculo comum: O imaginário, a crença, a força, o axé.
É necessário  à sociedade em geral compreender, hoje, as realidades passadas, em diferentes momentos históricos, visando a preservação da  identidade (re)construída pelos africanos e seus descendentes nessas terras.
À Ciência Geográfica, Histórica, Sociológica, Antropológica, Matemática e demais áreas cabe contribuir com esse fato, buscando entendimentos e compreensões que possibilitem o desencadear de uma conscientização sócio-histórica-geográfica, a respeito das culturas negras tão amplamente instauradas dentro dessa própria sociedade..... Negar o presença da organização, força de trabalho, religião, culinária, idioma entre outros elementos de origem africana em nosso cotidiano, é negar a si próprio, ao próprio país, país este, afro-brasileiro.



Importante enfatizar que o prof. João Francisco Costa foi escolhido como delegado no II Encontro Municipal da EJA de Canoas para participação no Encontro Estadual do Fórum da EJA, preparatório para o XIII ENEJA, a realizar-se no Rio Grande do Norte.

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