Prof. João Francisco (à direita) apresenta trabalho no III FALP
Durante o transcorrer do III FALP - Fórum Mundial de Autoridades Locais da Periferia, ocorreu no dia 11 de junho, a Oficina Afrocentrismo, promovida pela Coordenadoria da Diversidade em associação com a FAUERS - Federação Afro-Umbandista e Espiritualista do Rio Grande do Sul, onde importantes palestras associadas ao tema foram proferidas. Na oportunidade, o professor João Francisco Costa apresentou o Painel Impactos das Religiosidades Africanistas na Territorialidade Brasileira: Uma Abordagem Sobre as Religiões de Matriz Africana e o Cotidiano. João Francisco leciona geografia no ensino fundamental da Escola Municipal Rio de Janeiro e na modalidade EJA, na mesma escola, atua na área do conhecimento Ciências Humanas e Sociais. Aqui reproduzo o texto e os slides que serviram de base para sua apresentação no evento:
Por volta da década de 1530, os
portugueses iniciaram o processo escravocrata no Brasil visando, sobretudo, as
plantações e produção da cana-de-açúcar, assim como extração dos demais
materiais valorosos que pudessem de alguma sorte enriquecer os cofres da Coroa
Portuguesa.
As primeiras levas de africanos chegaram
ao Brasil provindas das regiões do Enclave da Cabinda e das áreas bantos. Esses e essas africanas entraram
em um processo de relações com os indígenas, principalmente, que lhe passaram
os segredos da nova terra: ervas, lugares sagrados e conhecimentos gerais das
novas áreas. Em contrapartida, os bantos
também possibilitaram conhecimentos adquiridos para com seus pares excluídos.
Desde o início, os africanos tentaram de
forma subliminar manterem suas religiosidades mesmo frente a imposição do
catolicismo dominante.
As segundas grandes levas de africanos
trouxeram ao Brasil os fon, vindos
das áreas próximas ao Golfo da Guiné. Esses fon,
quando chegados, encontram pequenas organizações afrodescendentes e
africanas as quais utilizarão para formarem tanto suas primeiras estruturas
de sobrevivência quanto sua estadia nas terras brasileiras. Influenciados e
influenciando com suas culturas, os fon
iniciam um processo de ampliação da resistência africanista. As construções das
igrejas, dos templos, das próprias ruas de Salvador ou do Recife ou de Porto
Alegre começam a impregnar-se de sacralidade religiosa africanista.
Evidentemente, proibidas, as religiões necessitaram de muitos meandros e,
sobretudo, fé para poderem permanecer em nosso território.
Em última análise, chegaram os
representantes do poderoso Império Yorubano, extremamente bem organizados
politicamente, trouxeram profundas e respeitosas tradições religiões e de
sistemas de governos. Conforme o documentário A Cor da Cultura, do Ministério
da Educação, “os iorubás trouxeram-nos
poderosíssimas tradições, porém, aqui já existiam muitas organizações e
estabelecimentos de culturas africanistas, as quais foram absorvidas pelos
iorubanos e, que estes também organizaram, formando no Brasil, uma
Iorubanização do processo religioso, sobretudo, na Bahia, com a chegada das
três princesas iorubanas, onde Ia Nassô teria organizado o Xirê dos Orixás (e
ai as entidades já ganham nomes iorubanos).
A influência e o impacto das
religiosidades de matriz africanista no Brasil atravessou os séculos e
tornou-se uma das maiores marcas culturais de nosso país, principalmente,
quando pensamos em um consciente coletivo brasileiro, porque não necessitamos
que nos digam que existem casas de culto em nossas redondezas, por exemplo,
basta que escutemos os tambores, ou analisemos as casinhas vermelhas na frente
das casas, ou ainda que vejamos as oferendas arriadas nas esquinas, praças,
encruzilhadas, etc.
Ainda, necessitamos ressaltar a
importância das festas religiosas africanistas que param municípios inteiros e
muitas partes do Brasil, como no caso da festa de Yemojá/Yemanjá, em 02 de
fevereiro, onde milhares locomovem-se às praias para pedirem vida melhor,
melhores condições de saúde ou simplesmente agradecer por graças alcançadas.
Esses fatos postulam a importância e o impacto da religiosidade
africanista no psicológico e na vida de milhões de brasileiros. Conhecemos e
reconhecemos os espaços que mesmo sendo urbanos foram tramados de sacralidade
(como nos coloca ROSENDAHL: “Os lugares
sagrados participam da estabilidade das coisas materiais e somente ao se fixar
sobre eles, confiná-los em seus limites e inclinando sua atitude à disposição
deles, é que o pensamento coletivo do grupo de fiéis possui maiores chances de
se imobilizar e permanecer: é esta a melhor condição da memória coletiva
religiosa. (HALBWACHS apud ROSENDAHL, op.
cit . p. 35.).
Não concluindo...
As formas de resistência dos africanos
escravizados no Brasil, demonstram hoje, a potencialidade de suas culturas. Os
fatos ligados a organização espacial, cotidiano e principalmente, pela luta por
melhores condições de vida, fizeram com que os afrodescendentes, criassem uma
nova perspectiva e identidade sócio-religiosa, no Brasil e, sobretudo, no Rio
Grande do Sul.
Compreenderam, a necessidade de uma
união e organização de seu “novo” espaço, a luz daquilo que de alguma sorte lhe
dava esperança: A Religião, a Fé.
Sacralizaram o novo território,
tornaram-no mítico, mesmo sofrendo pressão social e eurocêntrica, não abandonaram
seu vínculo comum: O imaginário, a crença, a força, o axé.
É necessário à sociedade em geral compreender, hoje, as
realidades passadas, em diferentes momentos históricos, visando a preservação
da identidade (re)construída pelos
africanos e seus descendentes nessas terras.
À Ciência Geográfica, Histórica,
Sociológica, Antropológica, Matemática e demais áreas cabe contribuir com esse
fato, buscando entendimentos e compreensões que possibilitem o desencadear de
uma conscientização sócio-histórica-geográfica, a respeito das culturas negras
tão amplamente instauradas dentro dessa própria sociedade..... Negar o presença
da organização, força de trabalho, religião, culinária, idioma entre outros
elementos de origem africana em nosso cotidiano, é negar a si próprio, ao
próprio país, país este, afro-brasileiro.
Trabalho sobre a Diversidade Prof. João Francisco Costa - Oficina Afrocentrismo - 11-06-2013 from Alexandre da Rosa
Importante enfatizar que o prof. João Francisco Costa foi escolhido como delegado no II Encontro Municipal da EJA de Canoas para participação no Encontro Estadual do Fórum da EJA, preparatório para o XIII ENEJA, a realizar-se no Rio Grande do Norte.
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